2.
“Estamos no bom caminho” – disse ele com toda a propriedade de um verdadeiro sidekick de super-herói enquanto limpava o vómito da capa cor de castanho litrosa. Os arranhões na cara denunciavam a luta feroz contra as pedras de calçada. Um vomitava, o outro mijava. Com a cabeça encostada na parede e de pernas afastadas tentava não se pingar com o mijo quente que fumegava enquanto escorria pela parede abaixo na noite gelada. O outro a dois ou a trinta passos de distância, sentado num poial cuspia os restos de arroz de feijão que acompanharam os jaquinzinhos fritos do jantar, enquanto tentava acender um cigarro. Dois passos dados para o lado esquerdo da poça de mijo limpa da mão aquele último pingo na máscara feita de um velho pano de cozinha tingido de “encarnado à Benfica”.
Sentados no poial, esfumaçam os últimos cigarros de uma noite da qual apenas já sobram os candeeiros das vielas ainda acesos, enquanto o dia clareia.
“Bom dia!” – diz a voz grossa que não é a de Deus.
“Bom dia…” – responde, enquanto se levanta desequilibrado e sacode o cú das calças e observa a figura que se encontra na porta com um portentoso bigode.
“Sabes, há dias em que mais vale um gajo nem ir à cama…” – diz, enquanto o outro se levanta atirando a ponta do cigarro para o meio das poças de mijo. A mistura do ar frio matinal e o cheiro a lavado do chão acabado de lavar da tasca fere-lhes as narinas.
“Ó Chefe! São duas… e duas bicas.” – pedem enquanto se encostam ao balcão.
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2 comentários:
passátrês, faxavôr!
O da Mancha. O outro será barrigudo.
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