5.
Chove lá fora. Está frio. Os dias solarengos de esplanadar ainda vêm longe. E as noite cálidas também. Aos Homens-Esplanda resta-lhes apenas as usas fortalezas de solidão comunitária, os mais pequenos e infectos tascos. Quanto mais parco em dimensões melhor, de modo a reduzir a amplitude de movimentos e a capacidade de infligir danos físicos de um qualquer Homem-Balcão despojado de lucidez.
O Homem-Balcão esse animal mítico e belo como a calçada à portuguesa, deve de ser respeitado e venerado pois foi ele permitiu ao Homem-Esplanada rastejar da tasca até à esplanada. Rastejar, literalmente.
Deus criou o mundo em sete dias, e ao sétimo dia enquanto Ele descansava, com um golo mal anulado ao Benfica o Homem-Balcão irritou-se e partiu-o todo. E Deus quando acordou criou os amendoins e os tremoços para distrair o Homem-Balcão, e como isso não sendo o suficiente criou também a “sande de courato”.
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
4.
“Bloody Mary, bloody, bloody Mary” – vodka, sumo de tomate, imaculada concepção, virgens que pairam sobre árvores. O cordeiro de Deus, o leitão do Diabo. Do alto do banco do bar, qual púlpito prego para um cinzeiro cheio de beatas e uma mão cheia de cascas de pistachios em cima do balcão. O copo de vidro grosso lascado com um resto de whisky no fundo e cinza do último cigarro, o último dos últimos. Ou uma mosca afogada.
O estertor das quatro e muitas, só nós os dois, eu e tu. O “Último para o Caminho”. A absolvição e a condenação de um só trago. A angústia do estômago antes de engolir o sapo.
O desmontar do equídeo banco sem ser derrubado. Aqueles quatro ou cinco longos passos até ao “o lá fora”.
“Queres um táxi?” – diz a voz lá do fundo atrás do balcão. Agradeço e digo que não, com toda a convicção de que já não sou um Hércules e de que as minhas costas já não me permitem fazer tamanhos esforços. E aonde é que iria pôr um táxi? Já tenho lixo a mais em casa.
“Bloody Mary, bloody, bloody Mary” – vodka, sumo de tomate, imaculada concepção, virgens que pairam sobre árvores. O cordeiro de Deus, o leitão do Diabo. Do alto do banco do bar, qual púlpito prego para um cinzeiro cheio de beatas e uma mão cheia de cascas de pistachios em cima do balcão. O copo de vidro grosso lascado com um resto de whisky no fundo e cinza do último cigarro, o último dos últimos. Ou uma mosca afogada.
O estertor das quatro e muitas, só nós os dois, eu e tu. O “Último para o Caminho”. A absolvição e a condenação de um só trago. A angústia do estômago antes de engolir o sapo.
O desmontar do equídeo banco sem ser derrubado. Aqueles quatro ou cinco longos passos até ao “o lá fora”.
“Queres um táxi?” – diz a voz lá do fundo atrás do balcão. Agradeço e digo que não, com toda a convicção de que já não sou um Hércules e de que as minhas costas já não me permitem fazer tamanhos esforços. E aonde é que iria pôr um táxi? Já tenho lixo a mais em casa.
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