segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

4.
“Bloody Mary, bloody, bloody Mary” – vodka, sumo de tomate, imaculada concepção, virgens que pairam sobre árvores. O cordeiro de Deus, o leitão do Diabo. Do alto do banco do bar, qual púlpito prego para um cinzeiro cheio de beatas e uma mão cheia de cascas de pistachios em cima do balcão. O copo de vidro grosso lascado com um resto de whisky no fundo e cinza do último cigarro, o último dos últimos. Ou uma mosca afogada.

O estertor das quatro e muitas, só nós os dois, eu e tu. O “Último para o Caminho”. A absolvição e a condenação de um só trago. A angústia do estômago antes de engolir o sapo.

O desmontar do equídeo banco sem ser derrubado. Aqueles quatro ou cinco longos passos até ao “o lá fora”.

“Queres um táxi?” – diz a voz lá do fundo atrás do balcão. Agradeço e digo que não, com toda a convicção de que já não sou um Hércules e de que as minhas costas já não me permitem fazer tamanhos esforços. E aonde é que iria pôr um táxi? Já tenho lixo a mais em casa.