sexta-feira, 3 de abril de 2009

8.
Um Homem-Esplanada não tem medo, tem sede. Um Homem-Esplanada fica muitas vezes retido no trânsito, intestinal. Ninguém escapa ao intestino, não existe nenhum Houdini da merda, nenhum Luís de Matos da sanita. Existe também aquele momento Sherlock Holmes, aquele momento em que a tonalidade da prova produzida permite reproduzir com alguma exactidão o crime.

“Beer, wine, hard liquor blended together in a fine mixture of shit.”

Arrepio caminho agora que há menos trânsito. De volta a mil, nove, nove e quatro aprecia-se a “Parklife”, num shot etílico do mais asqueroso, pulo quinze anos para à frente em constantes capotanços, seguindo pela estrada de tijolinhos amarelos tropeço em “Girls and Boys” que em nove, quatro nem mamavam nas tetas suburbanas das suas mães.

“A felicidade é linda e é uma carrinha a diesel.”

Gosto de os ver espalhados pelo chão, como se fossem pequenos Joaquins Agostinhos que se espetaram de encontro a um cão. Sinto-me o oitavo anão da Branca de Neve, aquele que estava sempre demasiado bêbedo para ir trabalhar na mina e cantar cantigas de intervenção.

Tenho que comprar um anão, não sei para quê ainda. Hei-de lhe arranjar um propósito. Mas um anão pouco mais alto que dois rolos de papel higiénico empilhados um em cima do outro. Não gosto de anões muito altos.

Sinto-me como a bala na cabeça do Hemingway, velha e enferrujada. É o “Ai foda-se!” do Joaquim Agostinho antes de bater no alcatrão.

Caminho triunfante sobre as carcaças dos “Girls and Boys” espalhadas sobre a estrada de tijolinhos amarelos, como se fosse num qualquer filme de guerra dos oitenta, já com a imagem esbatida. Também eu estou esbatido mas não derrotado.

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